terça-feira, 27 de setembro de 2011

L'enfant

Depois que escrevi sobre as coisas que eu quero preservar da minha infância, fiquei pensando em como grande parte do problema dos adultos estaria resolvido ou amenizado, caso eles lembrassem dessa leveza que já tiveram um dia. Menos julgamento, menos preocupação com amanhã, se vai engordar, se machucar, ficar cansado, chorar, se sujar, menos convenção pra viver...

E aí eu vejo alguns poemas e crônicas e adultos tentando resgatar justamente esse lado mais espontâneo das pessoas, esse ver coisas incríveis em coisas simples, viver o instante-já da Clarice não é isso? Viver agora, sem amarras ao amanhã. Amanhã a gente vive o amanhã... Não ficar sofrendo por antecipação, não agir por medo do que pode vir a acontecer. Como a gente, quando vai ficando adulto, têm dificuldade pra isso! Não que não seja compreensível... Uma criança aprende a não brincar com fogo porque pode queimar! Ela sabe que se pular de um lugar muito alto pode se machucar! Ela vai aprendendo e vai tendo mais cautela... Mas enquanto criança, não deixa de brincar, porque sabe que vale o risco! Ela sabe que é mais divertido brincar de pular fogueira, de balançar mais alto, de ir em lugares que dão medo só pela emoção de ver como é! O máximo que vai acontecer é ela ver um ser estranho e correr o mais rápido que der! E depois chegar em casa morto e dormir exatamente como uma criança! Livre de preocupações, de expectativas, de ansiedade (tirando datas mega importantes, como aniversário ou primeiro dia de aula).

Estou querendo viver assim, me focar mais no que eu tenho, não viver a vida pensando no que eu não tenho. Nossa, e aquela capacidade invejável das crianças de brincar com qualquer coisa? Elas conseguem brincar com sucata (não sei hoje em dia com toda essa tecnologia, mas não creio que se perdeu essa capacidade criativa...)! Elas brincam com o que têm. E eu quero viver bem com o que eu tenho. Quero agradecer todos os dias pelo que eu tenho! Pelo meu sofrimento, pela minha alegria, pela minha lágrima e meu riso. Chorar com toda a potencialidade, rir com todas as forças! E aceitar as coisas, ou nem pensar nisso, viver as coisas!

E não, não estou querendo ser criança de novo. Sei das responsabilidades, compromissos, hora de ser sério e tudo mais de chato que é ser adulto! Porque agora nós temos uma coisa chamada conhecimento e o fardo de ter que ser alguém na vida! Ser já não basta. A selva capitalista está aí e temos que aprender a nos defender e a nos comportar! O nosso compromisso passa a ser para a prosperidade de quem não está nem aí pra gente, não para um enriquecimento que de fato nos interesse. Passamos a viver uma vida que a gente não queria. E ficamos muito sérios por causa disso. A gente fala com mais pompa, quer ser mais eloquente, quer ponderar tudo o tempo todo! Mas fica chato ao mesmo tempo! Deixa de viver coisas legais, reclama de tudo, quer explicação pra tudo o tempo todo, tem pressão alta, pressão baixa, problema cardíaco, toma remédio pra cabeça não pirar, nossa, que ninguém venha me dizer que isso é a forma certa de se viver, por favor!

Estou discursando a favor de uma vida mais leve, apesar de todo o seu peso!

Leve. [Do lat. leve] Adj. 2 g. 1. De pouco peso. 2. Que recebe ou leva pouco peso ou pressão. 3. De pouca densidade. 4. Que se movimenta com desembaraço, agilmente, à solta. 5. De forma delicada, delgada, graciosa. 6. Que mal se percebe pelos sentidos; indistinto, tênue, ligeiro, suave, delicado. 7. Pouco carregado. 8. Quase imperceptível; insignificante. 9. Sem importância; sem gravidade. 10. Aliviado, desoprimido.

Estão aí dez definições que eu quero que minha vida seja! E quando eu concordo com insignificante, não é por achar que ela não tenha importância de fato, mas superestimam a vida. Acontece que ela é fugaz! Então eu acho que não sabemos do dia de amanhã, não o temos, o que nos resta é o hoje, o agora... E me parece mais sensato viver dele do que de projeções, preocupações, medos, ilusões e expectativas.

Creio eu...

Nenhum comentário:

Postar um comentário