sexta-feira, 26 de outubro de 2012

O Luto


Um velório sem corpo. Mas ele estava morto! Demorei pra perceber, cheguei a suspeitar, preferi não. Estava velando alguma coisa que não existia. Era um velar antecipado. Tudo pronto, tudo preparado para a morte. 'Venha, morte! Eu estou aguardando por você. O que você vai levar dessa vez? À la vonté.'

Não estava doendo, eu estava até feliz! Até conseguir ver. Mas quando eu consegui, quando eu realmente entendi que tinha morrido algo que era importante pra mim... debulhei em lágrimas. 'Ele morreu de desgraça', alguém falou... E quando as lágrimas começaram a cortar eu abri os olhos, respirei fundo, já estava quase chorando também.

Estou com feridas abertas. A cicatrização é um processo longo e confuso. Eu estou navegando por lugares completamente desconhecidos em mim. Estou experimentando algo que nunca tinha antes: ver as coisas sem o véu das minhas ilusões.

Dostoiévski escreveu a respeito de pessoas como eu:

'É o que sempre acontece às pessoas românticas: enfeitam uma criatura, até o último momento, com penas de pavão, e não querem ver, nela, senão o que é bom, muito embora sentindo tudo ao contrário. Jamais querem, antecipadamente, dar as coisas o seu devido nome. Essa simples ideia lhes parece insuportável. A verdade, repelem-na com todas as forças, até o momento em que aquela pessoa, engalanada por elas próprias, lhes mete um murro na cara.'

Esse foi o meu sonho analisado por ninguém mais, ninguém menos.

Eu estou me simpatizando com a tal da verdade nua e crua. Com as coisas feias, com as sujas, as desagradáveis, as cruéis, o tosco, o violento, o absurdo. A falta de esperança, a fatalidade, o inexorável. Cansei de ideais, da espera por alguma coisa que caiba nos meus sonhos, como varizes que vão aumentando, como insetos em volta da lâmpada.

Preciso de outros ares. O que eu respirava antes me asfixiou.

Mas eu voltei, só que diferente. Só que desconstruída. Só que desconhecida. Só que assustada.

Só.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Inconclusões


O fato de interpretar casos, acasos, palavras, gestos, atitudes, olhares, sempre esteve em mim. Mas no sentido de transformar essas coisas em alguma outra coisa para que tenha um sentido, afinal de contas, me custa entender que as coisas podem ser simplesmente coisas e ponto final. Aquilo não necessariamente significa alguma coisa... Só que pra mim sempre é mais. E na verdade, fazer isso nunca me levou pra uma real compreensão da coisa, pelo contrário! Acho que me trás uma certa alienação porque começo a supor coisas que pra mim, ficam subentendidas. O problema é que talvez eu que crie esse subentendimento.

Quando eu conseguir entender que as coisas podem ser simplesmente o que aparentam ser e nada mais, ou melhor, quando eu entender a não dar a devida importância para as coisas, vou ser uma pessoa tão mais leve... Essa coisa de querer ver beleza em tudo tem me cansado. Aliás, de ver beleza em tudo. Porque não é um esforço... É algo inerente à tudo que eu vejo, simplesmente.

(...)