quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Exprimir o inexprimível

As vezes eu fico pensando o que seria do mundo sem as palavras ditas. Sem os sentimentos expressos, sem idéias, descobertas, dúvidas, medos, ressentimentos, confusões internas compartilhadas. Sem estórias, vidas, casos e acasos escritos... Não teríamos um Woody Allen da vida, nem Clarice Lispector, Edith Piaf, Beethoven, Mário Quintana, Vinícius de Moraes, Chico Buarque e outros tantos que fazem nós vermos e sentirmos a vida com toda a sua potencialidade, com toda a sua delicadeza, suas nuances, seus altos e baixos, suas confusões internas e externas, as dificuldades de se relacionar, o quão pode ser tão lindo e tão doloroso e misterioso viver!

Fico pensando se passasse por eles a ideia de que compartilhar não vale a pena, o quanto o mundo estaria perdendo... Porque acima de tudo, eles nos fazem sentir mais humanos, menos sozinhos, quase como um conforto por saber que não é só você que se sente daquela forma, que pensa daquele jeito, que vive coisas inusitadas, e que sente! Pessoas que compartilham nos fazem ver acima de tudo o que temos dentro e que parece ser tão único, tão particular e quando na verdade é mais comum do que possamos imaginar!

Tem pessoas que têm o dom de conseguir expressar esse quase inatingível, intraduzível, inefável que carregamos dentro da gente. E é só através da tentativa, e ainda que seja dolorido fazer isso, que eles conseguem nos fazer ver o quão universal nós somos! Porque antes de tudo, exprimir toda essa dimensão que carregamos e vivemos não me parece uma tarefa fácil!

"Realidade é coisa delicada de se pegar com os dedos"

Tentar dar corpo à essa subjetividade, à essa imaterialidade, como poderia ser fácil? Precisa estar em contato com o que você tem de mais íntimo e que nem sempre é o lugar mais bonito e agradável para vasculhar. Carregamos coisas que não queremos admitir, encarar. Mas acho que pessoas que conseguem ir lá e revirar tudo, perdem a couraça. Olham aquele buraco negro e se jogam e têm a curiosidade de saber o que as esperam, algo que as revele, que as torne justamente mais humanas por encararem o que têm de mais estranho ou de mais bonito. Me parece que elas perdem o medo de se expor, de encararem suas limitações. E são belas por isso... Porque o que temos dentro é o que reflete fora. E se não se reflete, o que nos tornamos? Ocultos para nós mesmos, para o mundo?

"Isso de querer ser exatamente aquilo que a gente é ainda vai nos levar além."

Por isso que não posso me envergonhar de nenhuma palavra dita, nem de nenhuma atitude espontânea! Porque neste momento eu posso ser! Neste momento eu posso ser alguém no mundo porque estou me colocando nele! Estou me abrindo pra ele e dando o que eu tenho de mais único, de mais bonito, ou de mais feio, mas que sou eu! Eu no mundo... Eu faço parte dele! Eu o toco! Viver, pra mim, sem isso não me caberia!

Por isso eu falo, choro, canto, ajo, me doo, pra ver se consigo estar em contato com tudo que existe! A partir desse momento, as coisas não mais existem só em mim...

"Suponho que me entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir, de entrar em contato... Ou toca, ou não toca."

Pra mim, viver é isso.

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