sábado, 1 de outubro de 2011

Organizar a desorganização

Estava num tormento há dias, com poucas pessoas pra compartilhar, pra que a ouvissem, ou que pudessem dizer algo, mostrar um ponto de vista diferente, pontuar algo novo, enfim, tirá-la daquele rodeio de mesmas idéias. Mas 'mesmas idéias' era o que ela pensava que era, quando esquecia o quanto as idéias tinham amadurecido, o quanto havia mudado, aprendido. O quanto cada dia revelava uma parte desconhecida, ou desconstruia uma outra, como se estivesse em construção, ou fazendo uma reforma.

Só percebia toda essa mudança quando parava pra pensar em como e por quê aquilo havia começado. Em como um mês ou uma semana ou um dia e dependendo, até uma hora parecia todo o tempo do mundo! As horas viravam dias, que por sua vez se transformavam em semanas, que parecia um mês! Inversamente proporcional... Só aí percebia sua mudança, sentia as idéias borbulhando, progredindo numa velocidade luz ou regredindo, quando o que ela tinha não a sustentava e precisava reformular tudo de novo. Mas esse ir e vir de idéias e sensações diferentes é que era o barato! Uma confusão, zona geral, nada no lugar; tinha um gosto de mudança! Mas tinha hora que cansava. E sentia que precisava de uma faxina interior.

Das coisas velhas, algumas jogaria fora, outras arrumaria e colocaria no lugar. Coisas inúteis, todas pro lixo! Não tinham muitas coisas novas, senão a reoganização do que já tinha. Só que tinham coisas que ela não sabia o que fazer. Não sabia se valia a pena manter ou se livrar. Eram daquelas coisas que não se usa nunca, mas que temos a esperança de usar um dia. Tinha um quê de apego. Coisas que estavam ali há tanto tempo, que acabara se habituando com a presença. Sabia que não servia, mas não sabia se suportaria ficar sem elas. E essa parte da organização era a mais difícil.

Mas intuia que aquilo de fato não serveria, que eram só coisas que alguém deu e ela achou bonito. Percebeu que tinha se acostumado com a presença e a idéia de que poderia usar aquilo um dia. Percebeu que talvez esse dia não fosse chegar. Aceitava isso, mas não era tão simples jogar tudo fora de uma hora pra outra! Como poderia ser? É como se fizesse parte dela.

Mas queria começar a colocar em prática o desapego, queria renovar o espaço, arejá-lo e sentia que enquanto não decidisse o que fazer com as tais-coisas-de-mil-anos-atrás, não poderia deixar tudo do jeito que gostaria. E como gostaria?

Primeiro de tudo, só ter o que fosse realmente útil, aplicável. Queria ter um espaço que se aproximasse mais da realidade da sua vida naquele momento. Queria espaço pra que coisas novas pudessem entrar. Pra poder receber visitas num lugar agradável. Queria aquela sensação de paz que trás um lugar limpo, organizado e harmonioso. Queria um espaço límpido onde desse pra ver tudo com mais clareza. Queria o aconchego de onde se habita... Pra no final se sentir orgulhosa por ter conseguido deixar aquela zona do jeito que queria desde o início...

(continua... ou não)

Um comentário:

  1. Escreves muito bem. Parabéns.
    Por vezes eu procuro a desorganização, é no caos que sinto a minha liberdade e conforto para criar. A vida, em si, é deveras caótica.

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