terça-feira, 7 de agosto de 2012

Dos paradoxos

Depois de 'Na Estrada', novo filme do Walter Salles, uma dose (ou várias) de uísque, um maço de cigarro e um Miles Davis, por favor. O Miles de fundo é só pra tocar um pouco a certa angústia e um ar de drama pra toda a sensação que esse filme me trouxe.

Um filme ácido, daqueles que te deixam com um gosto meio amargo no final. Um certo desgosto... Um filme que fala da liberdade e do ar que ela tem. Um ar acre. Um ar angustiante por não saber o que fazer dele. Dias atrás eu falei pra um conhecido sobre a liberdade ser opressora. E talvez o filme tenha mostrado  isso de uma forma bem nua e crua em 1949, um ano em que nunca tinha parado pra pensar nos jovens que já sofriam em demasia por não querer o que era estabelecido, mas sem saber muito bem pra onde ir ou o que fazer. Queriam algo diferente, mas não sabiam o quê. E se jogavam e iam, sem rumo, sem prumo, sem metas, nem objetivos, só indo... Na direção do vento. Só que toda essa liberdade acabava por esmagá-los, afundá-los nas suas respectivas faltas de obrigação, de responsabilidade, de laço ou atenção com qualquer realidade que gritava, berrava pela atenção deles. Era muito mais fácil fazer e não se sentir responsável por aquilo, lógico! Se preocupar pra que? O barato é fazer e não pensar nas consequências! Legal é responder a todos os impulsos sem se questionar o por quê deles. Sem pensar em mais nada, além de satisfazer essa necessidade incessante de buscar algo novo, alguma emoção nova, algum prazer novo, algum vício, qualquer tampão que esconda esse buraco horroroso que carregavam dentro deles! Não queriam ver nada. Não queriam ver seus insucessos, suas dificuldades, suas faltas. Queriam se manter anestesiados. Ah, a adolescência...

E a minha angústia de ter visto esse filme foi justamente de me colocar dentro dele. As lembranças de uma época em que a minha vida foi exatamente daquela forma. Não tão exatamente assim pelas viagens loucas que eu não fiz, pelos paus da barraca que não chutei, pelas caronas na estrada que não peguei, pelas substâncias que não experimentei. E talvez se fizesse, hoje não estaria escrevendo dessa forma, talvez estivesse escrevendo um livro com as minhas memórias e então seria exatamente como o filme. Mas vivi toda aquela busca de não sei o quê. Todo aquele medo de tocar o que está em volta. E de não querer o que está em volta.

Mas sabe? Ter uma válvula de escape é extremamente necessário para a nossa sanidade, mesmo que ela não seja das melhores. O que não dá é pra viver dentro da válvula. Ela é pra situações de emergência. Para os momentos em que é preciso extravasar, pra pirar um pouco, pra esquecer de toda essa merda. Toda essa merda que acontece independente da nossa vontade, das nossas expectativas, das nossas faltas e necessidades. Essa merda de hipocrisia. Essa merda de mentira. Essa merda de padrões. Essa merda de preconceitos. Essa merda de vazio inexorável. Pra escapar de tudo isso... PORÉM! Ah, porém... A válvula de escape tem o seu lado cru também. Porque enquanto a queremos para extravasar certas coisas, acabamos criando outras e que tem as suas conseqüências e aí estamos no paradoxo inerente à tudo que vivemos. E aí já se foi a tal liberdade... E aí vem a opressão da conseqüência dos nossos atos.

Então diante dessa falta de liberdade que eu já aceitei, me falta aceitar a vida como ela é. A vida como ela é. A vida, como ela é?

(...)

( Essa fica pra depois! )

Então essa angústia que despertou em mim. Acho que foi só de olhar pro lado e lembrar dos por quês. Dos por quês deu ter me jogado na direção do vento e ter me perdido. Porque os por quês ainda estão aqui. Mas agora eu sei lidar um pouco melhor com eles... Mas talvez eu vi que ainda faça um pouco o que eu fazia antes... Talvez tenha me dado um leve cansaço... E uma leve vontade de chutar o pau da barraca... Mas não vou fazer. Porque me entregar para esse cansaço eu já experimentei. E não gostei do que vi... E não quero de novo. Só quero minhas pequenas válvulas de escape e está bem. Tudo bem a minha rotina, tudo bem o que eu não tenho, tudo bem o que eu queria que fosse diferente e não é e nunca vai ser porque nunca foi, então não é hoje...

Um dia quem sabe eu me entrego pra minha loucura...
Mas não hoje.
Não agora.
Talvez em um outro momento.
Quem sabe...?

4 comentários:

  1. você podia se entregar aos estudos e assim, talvez, pararia de reduzir o significado das coisas que vê no mundo e,quem sabe, começaria a expandir o seu conhecimento sobre ele.

    ResponderExcluir
  2. conhecimento não ocupa espaço, não é mesmo?

    engraçado é esse comentário tão cheio de propriedade como se fosse de alguém que me conhece desde a minha puberdade ou até antes dela! e anônimo é tão desgostoso...

    mas muito obrigada pela dica! concordo plenamente que expandir a nossa visão de mundo é absolutamente necessário para sair do mesmo, da bitolação, das verdades sem fundamento, das ideias mal formuladas.

    mas se conselho fosse bom, não é mesmo? a gente vendia por aí... e eu ganhando um de graça de um anônimo que, ao mesmo tempo é extremamente antipático e desagradável, quase que dá pra sentir uma real preocupação com a minha visão de mundo. mas desculpa, anônimo, você não tem o direito de falar sobre o que eu posso fazer ou não posso da minha vida. e você, estudioso que deve ser, se preocupando com questões que eu trato aqui nesse espaço, acho que tem coisas melhores para se fazer num sábado a noite! mas quem sou eu pra dizer o que você deve ou não se preocupar, não é mesmo?

    muito obrigada, anyway.

    ResponderExcluir
  3. Foi mal, fui ríspido desnecessariamente. Mas acho que você não entendeu bem o filme. Você já leu o livro?

    ResponderExcluir
  4. Bem, não li o livro. E só pra entender melhor... Eu nem sabia sobre o que o filme tratava quando fui assisti-lo. Não fazia ideia de que era de um livro. Esse meu relato acerca desse filme foi puramente emocional. Só discorri dessa maneira porque estava saindo do cinema extremamente incomodada e angustiada por ter tocado lá no fundo coisas em mim que eu não gosto de pensar, nem de lembrar, nem de saber... Coisas resolvidas-mal-resolvidas, enfim!

    Mas de fato o filme não é só isso que eu escrevi! Foi uma forma de olhar, de interpretar... Mas ainda concordo com a perdição que tem na forma de vida daqueles jovens e daquela geração!

    ResponderExcluir